TRAIÇÕES AFETIVAS - DIVALDO FRANCO
Uma das chagas morais perversas mais dilaceradoras para o ser humano é sofrer a traição.
Todos nascemos e renascemos com a fatalidade de crescer em direção de Deus. Neste processo antropossociopsicológico, o sentimento de amor tem preponderância. Começa no instinto de preservação da vida e alonga-se, através da evolução, em amizade, afeto e amor. O ser adapta-se à ternura e à afetividade que lhe passam a constituir alimento vital, dando-lhe resistência para os enfrentamentos das vicissitudes.
De alguma forma, o fenômeno da fidelidade faz-se a base de sustentação do afeto. A ocorrência elastece-se na amplidão de todos os comportamentos, não havendo lugar para a infidelidade, a traição. A traição rebaixa o ser, mantendo-o em estágio egoico, sadista. Deve-se ter sempre em mente corresponder à confiança de que se sente objeto para lograr-se a construção de uma sociedade equilibrada.
Desejamos melhor expressar o nosso pensamento mediante um fato que muito nos sensibilizou. Era um casal americano do norte aparentemente feliz no casamento, no qual nascera um filho, então com 19 anos. Certo dia, antes do jantar, o marido disse à esposa que desejava divorciar-se. Informava que o casamento perdera o encanto, transformara-se numa fraternidade sem sentido.
Após a acalorada discussão que se seguiu, a senhora anuiu com duas condições: cederia o divórcio dentro de 30 dias, mas nesse período pedia-lhe que a carregasse pela manhã da alcova à sala. Tomado de surpresa, ele protestou, mas ela foi inamovível. Ele resolveu consultar a nova parceira, razão do divórcio, que zombou da vítima, sugerindo que se tratava de uma estratégia para mantê-lo. Depois de muito pensar, ele resolveu aquiescer.
No primeiro dia, muito constrangido, atendeu-a, assim como nos dias sucessivos. O filho, que de nada sabia, comovia-se ao observar a cena. À medida que se passaram os dias, ela vestia-se com cuidado e no 25º usou o perfume que utilizara nas bodas. Lentamente ele se apercebera que a amava e que ela parecia muito magra. Por fim, antes do prazo, ele resolveu homenageá-la com rosas.
Adquiriu-as e levou-as. Chegou ao lar, dirigiu-se à alcova em suave claridade e acercou-se do leito em que ela estava deitada, ao tentar entregar-lhe as rosas, notou-a morta. Presa ao vestido estava uma carta que ele abriu e leu.
Ela explicava que lhe pedira 30 dias, porque naquela tarde passada, estivera no oncologista e após cuidadoso exame o médico dissera-lhe que ela estava com um câncer e teria, no máximo, 30 dias de vida. O seu estratagema era para que não parecesse que fora o divórcio que a matara. E, por amá-lo muito, nada dissera, somente fizera aquele pedido como justificativa...
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 15-12-2016.