por José do Patrocínio
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A mediunidade não é privilégio de raças e seu grau não se vincula a cor da epiderme.

É recurso misericordioso concedido ao homem para que ele possa ser instrumento das “vozes do céu”.

E é por ela que escrevo, não para verbalizar como outrora meus sentimentos de revolta e descontentamento, pois o tempo e o conhecimento das leis da vida aplacaram minha ignorância.

Testemunhei inúmeras vezes as “vozes do céu” a se manifestarem nos redutos de sofrimento, nas senzalas, onde não existia dignidade humana e o desespero e a dor eram o pão de cada dia.

A escravidão do corpo não impedia que o espírito se libertasse e alçasse voo através das mensagens de esperança.

Nas senzalas, fenômenos mediúnicos aconteciam de maneira farta, pois através da mediunidade, o consolo chegava para aqueles que aguardavam a morte no cativeiro.

A desesperança se abrandava quando incorporações aconteciam e as vozes eram ouvidas cantando a fé em uma vida nova.

Eram parentes que feneceram na senzala e depois de mortos voltavam para falar da continuidade da vida.

Pais desencarnados que pediam coragem aos filhos, guias espirituais que aviavam receitas para minimizar as dores e doenças do corpo.

A revolta e a inconformidade eram aplacadas pelas vozes invisíveis ouvidas na senzala.

Mas existiam noites especiais, onde se testemunhava que “anjos do céu” desciam à Terra, porque mesmo no cativeiro a luz se fazia pelo amor de Deus por seus filhos.

Eram as noites em que vozes de amor entoavam a canção de liberdade ensinada por um Profeta Galileu.

Conta-se que nessas noites um perfume diferente era sentido, que o sofrimento abrandava.

As vozes diziam que o Profeta também foi cativo de uma cruz e que, mesmo inocente, Ele não deixou de abraçá-la para redenção de todos os homens, seja qual for a cor da sua pele.

As vozes ensinavam o perdão, pediam paciência, conclamavam a união.

Não obstante essa consoladora realidade, alguns corações cultivavam a revolta diante da desumanidade com a qual os negros eram tratados.

E a vingança e o crime eram defendidos por muitos.

Percebia-se que as vozes guardavam sintonia com os homens de boa ou má conduta. Fossem eles bons, sintonizavam-se com boas vozes, fossem eles maus, eram instrumentos das vozes revoltosas.

Quantas revoltas e crimes foram evitados pela intercessão dessas vozes que pediam coragem e paciência!

Do lado invisível, forças espirituais se movimentavam, a fim de fortalecer os corações em sofrimento.

O Cativo da cruz ensinara aos homens que a liberdade viria, mas que ela começaria por dentro do coração.

Seu evangelho ensina que cada espírito está atado ao tronco da própria ignorância e da maldade, mas que a caridade traz a libertação, a alforria verdadeira.

Se não houver luz por dentro da alma, não haverá luz na vida.

Fui filho de religioso. Quando encarnado, tive contato com o evangelho e me perguntei muitas vezes: Por onde anda esse tal Jesus, que não vem libertar minha gente?

Durante um tempo acreditei que existissem dois Jesus, um para salvar os brancos e outro para salvar os negros.

Em minhas preces, pedia para que surgisse um Jesus para os negros, não entendia que Ele não era Redentor de corpos, mas de almas.

Naqueles tempos, o que meus olhos viam de dor e sofrimento cegavam minha alma, e repudiei essa brandura e entendi que não seria Ele o Redentor.

Os navios negreiros que aportavam entulhados de escravos diminuíam a minha fé e aumentavam minha revolta.

Seres humanos sendo tratados como animais por causa da cor da sua pele.

Fiz o que pude, mudei de lado, voltei para o outro lado, paguei o preço das minhas escolhas, até que o gosto do sangue em minha boca fez raiar a liberdade para o meu espírito.

Morto fisicamente, meus olhos se abriram para as coisas do espírito.

Em minhas memórias, as invisíveis “vozes da senzala” sempre vão estar presentes, porque encontrei consolo em suas mensagens.

Mensagens que ensinavam que o Redentor estava no mundo, não para nos livrar das lutas do mundo, mas para verdadeiramente libertar todo aquele que crê em Deus e entende que só é livre de verdade aquele que ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Podemos entender a Terra como uma grande senzala, onde todos estamos ainda cativos, mas em dimensões diferentes.

A dor experimentada no cativeiro de carne é que abre os ouvidos humanos para os valores imperecíveis da alma, daí muitos estão se voltando para ouvir e ler as mensagens que chegam da dimensão espiritual.

A mediunidade é neutra, mas o médium é o responsável pela mensagem que transmite, pois deve se sintonizar com as bondosas e invisíveis “vozes na senzala”.

A liberdade na Terra é relativa, pois a medida que amamos nos liberamos, mas quando o ódio e a paixão nos envolvem, os grilhões aumentam e encarcerados ficamos.

José do Patrocínio pelo médium Adeilson Salles

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"A maior caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua divulgação."

Chico Xavier & Emmanuel





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